De todas as aventuras que nós vivemos, eu e o Alain, o raid Bochiman é de longe a minha preferida. É claro que eu gosto da velocidade e da competição e o raid Bochiman não entra nestas categorias mas, ele junta duas noções que ma fazem vibrar : a aventura selvagem e os automóveis. Para mim, o que diferencia antes de tudo o raid Bochiman, é o seu contexto de proximidade pois, se ele evolui numa outra dimensão que não nos é habitual, os participantes encontram-se no seio desta nova dimensão, mas integrando-a “como actores”. Proximidade? É principalmente a proximidade das pessoas que participam no raid e que descobrem em si, facetas desconhecidas deles próprios, numa envolvência selvagem onde nada está definido e onde nos temos de adaptar muito rapidamente a cada nova situação. Depois, é a proximidade com os homens e as mulheres que encontramos, algumas vezes tão desapossados de tudo mas, ao mesmo tempo, parecendo tão felizes, apesar da sua miséria. Enfim, a proximidade da fauna e da flora, porque no raid Bochiman, vivemos qualquer coisa de muito exaltante ou a cada instante aparece-nos uma surpresa: o leopardo que faz a sua sesta, sobre a sua árvore favorita, a família de leões que parte para a caça, aquele elefante que, ao sentir a nossa aproximação, atravessa a correr para encontrar o seu filhote, o hipopótamo que aparece de repente da água do rio propulsando a sua enorme massa a uma altura inacreditável, ou ainda, as avestruzes que fazem corridas com o nosso jipe a mais de 60 Km/h . Cada minuto, cada segundo dá ocasião a que qualquer coisa se manifeste e nos surpreenda. Mas o que eu gosto mais no raid Bochiman é a poesia com a qual se reveste esta viagem. Poesia nas paisagens, na luz, nos odores tão especiais do mato, no comportamento dos animais, apanhados ao vivo e na interpretação da história que de certeza não deixaremos de contar desta nossa jornada, a etapa que nos fez brilhar os olhos, aquela luzinha de que ficou de um prazer inesquecível.

François Migault